Compartilhe comigo histórias do dia-a-dia, mas que não deixam de ser inesquecíveis!!!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O Politiqueiro e o Administrador

Antônio Silvério, cidadão trabalhador, correto em suas obrigações, proprietário de um médio comércio de venda de produtos diversificados, instalado no bairro de uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, onde nasceu, casado com d. Marivalda, dedicada aos afazeres do lar, tiveram cinco filhos, três mulheres e dois homens, esses gêmeos, Leonardo e Salvador.
Leonardo, desde a sua tenra infância, mostrou-se como um garoto comunicador, lépido, brincalhão, sempre atencioso com as pessoas, atributos que manteve em sua adolescência, tendo contra si o fato de não ter se interessado pelos estudos, cursando apenas o primário, dedicando-se, de corpo e alma, ao movimento político, filiando-se ao Partido X.
Salvador, contrariamente ao estilo despojado do irmão, trilhou o caminho traçado em sua infância: trabalhar intensamente, visando sustentar os seus sonhos, integrados ao aprendizado de formação acadêmica e superior, podendo, assim, participar e contribuir para o desenvolvimento financeiro e econômico de sua cidade.
Os anos se passaram e Leonardo e Salvador seguiram rumos diferentes. Leonardo, com espírito político, candidatou-se ao cargo de vereador, sendo eleito com expressiva votação, decorrente do seu jeito manhoso de se comunicar com o povo. Abraçando, sorrindo e cumprimentando quem estivesse ao seu redor, principalmente elogiando criancinhas no colo dos pais, todas lindas e graciosas, independentemente de ser ou não. Futuro político promissor, com enorme possibilidade de ser o próximo prefeito do município.
Salvador por sua vez, mudou-se para uma cidade vizinha, lá instalando escritório de advocacia, integrado a uma empresa de capacitação profissional, ministrando vários cursos dirigidos para o desenvolvimento previsto para a dita cidade.
Subitamente, os municípios em que moravam passaram a usufruir de vital importância econômica e financeira para o País, decorrente das descobertas de imensas bacias de petróleo, com estrondoso aumento em suas receitas, atingindo números de bilhões de reais. Leonardo, como era esperado, foi eleito prefeito, passando a administrar o município em atendimento a sua imagem, e seguindo expressamente os ensinamentos de Nicolau Maquiavel, verbis:

As pessoas se impressionam sempre com a aparência superficial das coisas. O príncipe deve, em épocas adequadas do ano, manter o povo ocupado e distraído com festas e espetáculos.”

Os homens são tão simplórios, e tão dominados por suas necessidades imediatas, que um mentiroso sempre encontrará muitos prontos para serem enganados.”

A administração desenvolvida por Leonardo, apesar da fabulosa receita, não atendeu as ansiedades e as necessidades da população, eis que, inicialmente, o município não se preparou para o desenvolvimento e a evolução da cidade. E, por último, os serviços públicos se apresentavam como de baixa qualidade e o dinheiro circulante, essencial para a regularização do setor industrial e comercial dissipou-se, estranhamente. Tal situação corroborava o sábio ditado popular: Dinheiro na mão de quem não sabe administrar, vira pó!  Município rico, povo pobre, desprotegido, desamparado.


Salvador, residente em município vizinho, foi, passo a passo, fundamentado em suas ações diárias, alcançando a admiração de todos, principalmente pela correção, consistência e evolução das atividades desenvolvidas, chegando a ser indicado para concorrer a Prefeitura e  aceitando imediatamente. Eleição marcada, foi eleito com esmagadora maioria. Administração iniciada, com base em projetos elaborados com eficiência e capacidade profissional, transformou rapidamente a imagem da cidade, dotando-a de serviços públicos de primeiríssima qualidade, abrindo espaço para a implantação de empresas nacionais e internacionais, instalando cursos profissionalizantes para atender as necessidades da população, investindo pesadamente na saúde, no saneamento básico, na educação. O progresso chegou, com oportunidades múltiplas de trabalho para todos, inclusive com mão-de-obra qualificada. Cidade rica, povo feliz, com renda per capita obtida acima da média nacional. Cursos superiores mantidos com acentuada participação econômica e financeira da Prefeitura. Administração municipal descentralizada, com sub-prefeitos em cada distrito, escolhidos em voto direto pela população de cada distrito. Receitas e despesas mensais publicadas no Diário Oficial, mês a mês. Transparência integral.
Cidades vizinhas, de um lado povo sofrido, triste, desiludido, empobrecido e dominado pelo autoritarismo e, de outro lado, povo feliz, alegre, saudável e otimista.



O motivo de tanta diferença? Explicação simples! Eis que da cidade rica e povo pobre e desiludido, o administrador é um politiqueiro, enquanto na cidade rica e feliz, o prefeito é um administrador, com projetos idealizados e desenvolvidos voltados exclusivamente para o progresso da cidade e o bem estar da população.
Filhos gerados de um só ventre, mas substancialmente diferentes, principalmente na correta definição das palavras EFICIÊNCIA, ÉTICA E HONESTIDADE!!!
São os mistérios da vida que o ser humano desconhece e, provavelmente, jamais decifrará.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Vida que segue

Orisvaldo Tenório nasceu em uma cidade do interior do estado do Rio de Janeiro, no ano de 1961, filho de seu Tinoco e de dona Maria, pessoas humildes, honestas, corretas e trabalhadoras, ele funcionário público e ela doméstica.
Orisvaldo casou-se com dona Marilda e tiveram 2 filhas, Creusa e Odete, e um filho, Ricardo. Apesar das dificuldades financeiras, o casal tinha como meta proporcionar aos filhos a condição de estudar em escolas de nível acentuado, e quem sabe, até mesmo obter um diploma de Doutor (a)!!
Creusa, morena jambo, em sua adolescência, demonstrava características de atleta, principalmente no volêibol, destacando-se nos fortes saques. Odete, menina meiga, adorava a convivência do lar, aluna disciplinada, obtendo as melhores notas em sua escola. Ricardo, garoto impetuoso, namorador, ligado ao futebol e ginástica, curtia o seu corpo escultural.
Família feliz, vivendo em harmonia.
O tempo, como sempre, avassalador e insensível, chegou para as filhas e o filho do Sr. Orisvaldo e dona Marilda.
Creusa, com 17 anos de idade, e Odete, com 16 anos, deixaram de lado as brincadeiras de criança, curtindo os primeiros namorados, as sensações dos encontros carinhosos, o inusitado prazer de sentir-se mulher adulta, experimentando as tristezas, angústias e alegrias provenientes dos relacionamentos iniciados. Ricardo, com os seus 19 anos vividos, mantinha o sonho de ser jogador de futebol, vestindo a camisa de seu clube favorito, dando sinais, porém, de ter a companhia de jovens iludidos pelo vício da bebida e adjacências.
Orisvaldo e Marilda, outrora tranquilos, agora preocupados e tensos, deixaram de sorrir. No jantar, antes integrado por todos, agora resumia-se ao casal. Os problemas, inevitavelmente, foram se acumulando.
Creusa, decepcionada com os homens, proveniente das incertezas e fragilidades de seus namorados, conheceu Rebeca, iniciando um tortuoso relacionamento. Desespero total no seio familiar.
Odete, antes dedicada ao convívio do lar, conheceu Fausto, integrante de um circo internacional, resolvendo segui-lo incondicionalmente, dizendo apenas adeus aos seus pais.
Ricardo, renunciando ao sonho de jogador famoso, trilhou o caminho sem volta do vício total, destruindo a sua vida e, ao mesmo tempo, as de Orisvaldo e Marilda. Morreu cedo, aos 28 anos de idade.
Desolados, carentes e desiludidos, o casal sucumbiu, nunca mais tiveram notícias de Odete, sabendo apenas que Creusa, separada de Rebeca, iniciou novo romance com Ester, morando no interior de São Paulo.
Hoje, indagados sobre seus filhos, respondem amargamente: "Vivemos sorrindo ou chorando por eles e morremos, na tristeza ou na alegria, por atos causados por eles!"   


sexta-feira, 29 de julho de 2011

Momentos Mágicos

21 de Julho de 2011, quinta-feira, 7:00 horas. Levanto da cama, preparo um reforçado café da manhã (frutas, leite, queijo, suco de laranja e yogurt). Em seguida, o tradicional exercício físico, com duração de 30 minutos, seguido de um refrescante banho. Tudo indicava um dia comum, sem qualquer surpresa.
10:00 horas, recebo um telefonema de Júnior, meu sobrinho, convidando-me para comparecer ao Teatro de Bolso, com a finalidade de integrar a comitiva da Escola de Samba de Madureira do Turf, Campeã do Carnaval 2011, para receber os troféus indicados pelo radialista Marcelo Sampaio, produtor e apresentador do programa Ritmo da Folia na TV Litoral. Imaginei de pronto: mais uma festa sem emoção, chamando pessoas para o recebimento dos troféus correspondentes, com falação interminável. Porém, jamais poderia recusar tal convite, pois se tratava da Escola de Samba de Madureira do Turf, bairro em que nasci e onde vivem os meus queridos familiares.
Cheguei na hora marcada - 20:00 horas, e logo de início, uma agradável surpresa: o espetáculo iniciou na hora certa, com a presença do organizador Marcelo Sampaio e de sua graciosa parceira. Presença marcante essa do Marcelo! Fala naturalmente, com ênfase, abordando questões complexas e sem receio de desagradar a gregos e a troianos. Gostei do cara!!
E as surpresas começaram a surgir. Início dos momentos mágicos, inesquecíveis. Primeiramente, com uma apresentação de um conjunto composto de 10 ou 12 pessoas, mostrando a origem do Maculele, Gongo, Capoeira e Samba, com uma elegância, correção e leveza encantadora, inclusive com uma menininha de uns 6 ou 7 anos, dançando como gente grande e irradiando a pureza, a doçura da infância. Maravilha!! É pra aplaudir mil vezes!!




Prosseguindo, é levado em cena a figura antológica de Geraldo da Gamboa, trajado como sempre, elegantemente, recebendo justíssima homenagem, cantando música de sua autoria. 82 anos, com voz forte e ao mesmo tempo suave de alguém com 20 anos. Com acompanhamento de Charles, ao violão, mostrando maestria e conhecimento de um veterano. Brilhante!!
É comunicado ao palco Robertinho "Boca de Encrenca". Iniciando a sua falação, pensei: "Com esse nome, Boca de Encrenca, certamente a confusão vai começar!!" Engano total! De seu falar, palavras de integração, amizade, união, paz e amor foram transmitidas no ar, proporcionando entendimento geral. Robertinho, não mais boca de encrenca, mas sim boca de paz, confraternização e amor. 
Finalmente, no local onde a ilusão se torna realidade e a realidade se torna ilusão, Teatro de Bolso, uma incoerência paira no ar. Reunidos, praticamente todos os "monstros" sagrados do samba, únicos responsáveis pela sobrevivência desta cultura popular e imorredoura, a uma só voz explodiram: Queremos o nosso carnaval na data certa!!! Indaga-se: Se o samba/carnaval, sobrevivem exclusivamente em razão da participação dos componentes das escolas, blocos, bois, etc, porque o carnaval da nossa cidade é realizado em desacordo com o desejo de todos?
Obrigado Marcelo, agradecimento esse extensivo a todos os incansáveis e legítimos integrantes e representantes da nossa maior cultura popular, samba/carnaval, pelos inesquecíveis momentos mágicos desfrutados!   


segunda-feira, 25 de julho de 2011

Realidade ou Ilusão?

Joãozinho da Banana, homem criado no interior de Murundu, trabalhador braçal, competente cortador de cana, sonhava diariamente em alcançar um futuro melhor. Solteiro, 23 anos, forte como um touro, apesar de mal alimentado, morando sozinho num casebre desconfortável, pois a sua mãe falecera, e o pai era desconhecido. Desejo maior: encontrar a companheira ideal. Numa noite de sábado, mês de Junho, festa de São João na localidade. Comprou roupa nova, no saldo da feira, imaginou: "Hoje, se Deus me ajudar, vou encontrar o meu amor!"
Festança iniciada, rojões soltos, alegria contagiante. De repente, olhou para a frente e os seus olhos brilharam, o seu corpo arrepiou, paralisado ficou!! Vislumbrou uma imagem repleta de graça, beleza e alegria. Joana, morena de corpo esbelto, olhos verdes, cabelos castanhos, com vestido de cor reluzente. Levados por desejo divino, os dois se olharam. Amor repentino, esfuziante, contagiante! Completamente extasiado, Joãozinho da Banana mudo ficou. Joana, nervosa, estremecida, também nada falou. No roça-roça da festa, alguém esbarrou em Joana e ela nos braços amparadores e acolhedores de Joãozinho ficou.
Inevitavelmente, a conversa começou. Apresentação de lá e de cá, participaram do Arraiá, dançando a noite inteira. Felicidade total, carícias íntimas trocadas. Festa encerrada, Joãozinho indagou: "Posso levá-la em casa?" Joana respondeu: "Não, sou filha única e meu pai não vai gostar. Estou na festa porque ele viajou para a cidade."
Joãozinho triste, lamentou e perguntou: "Quando então, posso vê-la?" e a resposta surgiu: "Somente no ano que vem, neste mesmo local, na mesma hora." E repentinamente, se mandou. Pálido, gélido e surpreso, Joãozinho da Banana quase se petrificou. Desolado, rumou para o seu modesto casebre e acordado permaneceu o dia inteiro, pensando nos momentos felizes que passou.
No ano seguinte, no mesmo local, na mesma hora, Joãozinho, nervoso e apreensivo, na festa do Arraiá chegou. Dolorosa decepção! Joana não compareceu.
Os anos se passaram, e Joãozinho jamais deixou de comparecer na dita festa, cumprindo rigorosamente os mesmos detalhes. Joana, da mesma forma que apareceu, igualmente desapareceu.
Hoje, contando 60 anos de idade, Joãozinho continua em seu calvário, jamais procurou manter contato com outra mulher, vivendo em completa solidão. Indagando, em todos os momentos, se Joana era uma realidade ou uma ilusão.